terça-feira, 23 de setembro de 2008

Orgulho?

Que o Momento da Verdade tem agitado as águas do panorama televisivo, é um facto. Que muito se tem falado e escrito sobre o programa, também. A fórmula, para quem não conhece, é relativamente simples. Alguém é submetido a 50 perguntas, cuja veracidade das respostas é averiguada por um polígrafo. De seguida, 21 dessas perguntas (salvo erro) são seleccionadas para o programa. Cada patamar que permite atingir os 250.000 Euros, de prémio final, tem um número fixo de perguntas. Se se disser sempre a verdade, ganha-se tudo. Se se mentir, alguma vez, perde-se tudo. De salientar que as perguntas são, obviamente, de índole pessoal, estando a família/amigos mais próximos presentes em estúdio. Tudo isto com a Teresa Guilherme a apresentar!

Feita uma breve introdução, vamos ao que interessa. Quando vi o segundo programa fui surpreendido por uma pergunta, e uma resposta ainda mais, passo o pleonasmo, surpreendente. A um pai, perante o seu filho, pergunta-se: "Tem orgulho no seu filho?" E a resposta, um pouco demorada, é: "Não!" E o polígrafo acrescenta: "Esta resposta é Verdade!"

Ora, para além da cara chorosa da mãe do dito filho (esposa do dito senhor), da cara meio espantada da mãe/avó e da surpresa (ensaiado ou não) do filho em questão, surge a seguinte dúvida: admitir, perante um universo potencial de milhões de pessoas, que não se tem orgulho de um filho valerá 250.000 Euros? Poderá ou deverá um pai dizê-lo (sequer pensá-lo), de alguém que gerou e "moldou"? E como se sente o filho que o ouve?

Partilhei a minha incredulidade com o meu amigo Musicólogo e ouvi (li) de volta um: "Acho perfeitamente normal, muitos pais pensarão o mesmo!"

Estou certo de que os meus pais não o diriam. Certo, como certo do orgulho que sinto por eles. Partilhada também esta informação, inicia-se uma discussão acerca do tema. Afinal, será ou não "natural" os pais não sentirem orgulho dos seus filhos?

É um facto que todos os pais projectam nos filhos determinadas aspirações, traçam-lhes objectivos que gostariam que atingissem, especialmente se eles próprios não o conseguiram. É natural, afinal os pais querem (ou deveriam querer sempre) o melhor para os seus filhos. O problema reside na lata definição de "melhor"...
Aos pais caberá dar aos filhos todas as ferramentas à sua disposição, para que possam decidir o seu futuro. Cria-lo, assim como criar-se a si mesmos. Não cabe aos pais decidir por eles, ou impor-lhes fórmulas feitas, normalmente elaboradas para evitar que os filhos caiam nos mesmos erros por eles cometidos.

Mas todos falham. Todos nos desiludem. Muitas vezes por destruir a imagem que nos transmitiram de si, ou por destruir a imagem que criámos deles. Os filhos não são excepção. Nem sempre seguem os caminhos que os pais julgam ser os melhores e, nestes casos, a desilusão, ou no mínimo, a tristeza, são sentimentos normais. Mas poderá isso destruir o orgulho que se possa ter nos nossos filhos?

Se admitimos erros aos outros, os desculpamos, perdoamos e, nalguns casos, até esquecemos, não seremos capazes de os fazer a alguém que concebemos? Afinal, se um filho faz uma "asneira" o pai que lhe transmitiu valores e o educou não será, de todo, isento de culpa. E gostar de alguém, amar alguém, é reconhecer-lhe os defeitos e as virtudes, aprendendo a lidar com ambos.

Assim, parece-me que um pai que ame realmente o seu filho, não poderá dizer, conscientemente, que não sente orgulho dele. E se o diz, não pondera que por mais que projecte de si no seu filho, ele é um ser único e diferente de todos, com as suas próprias aspirações e desejos, que podem não se conjugar com os dos progenitores, por mais difícil que seja lidar com isso!

Pais do mundo, tenham orgulho dos vossos filhos. Eles são parte de vós, e serão, sem dúvida, merecedores do vosso respeito e melhor apreço!

P.S.: E certamente, admitir a ausência deste orgulho em pleno prime time não será o melhor a fazer!

2 comentários:

Nobody Knows disse...

o que as pessoas fazem por dinheiro..

mas acho que se realmente n tinha orgulho devia dize-lo..mas claro que nao por dinheiro nem na televisao. mas eu voto que as pessoas digam sp aquilo que sentem! por muito duro que isso possa ser.

Rui Gabriel Baptista disse...

A relação progenitor-cria é algo completamente irracional.

Quando nasce uma criança existe todo um mecanismo que altera a piramide das necessidades.

Os Pais começam a viver para e em função do rebento. Criam expectativas e projectos, deixando de lado as ambições pessoais.

E como agradecemos nós filhos? Ao contrario do que se poderá ver na cultura Indiana (Bengali), em que as familias ainda são o suporte de toda um sociedade, em que os mais antigos são considerados os cabeça de toda a familia. Aqueles que possuam uma opinião ainda conta pois a sabedoria dos anos assim lhe deu o estatuto.

Nos países desenvolvidos, abandonamos o ninho mal conseguimos caçar sozinhos. E regressar por vezes nem em alturas festivas. Consideramo-nos autonomos, donos do nosso próprio destino.

Não será isto um atitude de egoismo, virar as costas a quem mudou a vida por nós e para nós?

Poderá e terá um pai só porque é pai ter orgulho num filho que não sabe ser filho e se comporta como mais um na sociedade?