Que o
Momento da Verdade tem agitado as águas do panorama televisivo, é um facto. Que muito se tem falado e escrito sobre o programa, também. A fórmula, para quem não conhece, é relativamente simples. Alguém é submetido a 50 perguntas, cuja veracidade das respostas é averiguada por um polígrafo. De seguida, 21 dessas perguntas (salvo erro) são seleccionadas para o programa. Cada patamar que permite atingir os 250.000 Euros, de prémio final, tem um número fixo de perguntas. Se se disser sempre a verdade, ganha-se tudo. Se se mentir, alguma vez, perde-se tudo. De salientar que as perguntas são, obviamente, de índole pessoal, estando a família/amigos mais próximos presentes em estúdio. Tudo isto com a Teresa Guilherme a apresentar!
Feita uma breve introdução, vamos ao que interessa. Quando vi o segundo programa fui surpreendido por uma pergunta, e uma resposta ainda mais, passo o pleonasmo, surpreendente. A um pai, perante o seu filho, pergunta-se: "Tem orgulho no seu filho?" E a resposta, um pouco demorada, é: "Não!" E o polígrafo acrescenta: "Esta resposta é
Verdade!"
Ora, para além da cara chorosa da mãe do dito filho (esposa do dito senhor), da cara meio espantada da mãe/avó e da surpresa (ensaiado ou não) do filho em questão, surge a seguinte dúvida: admitir, perante um universo potencial de milhões de pessoas, que não se tem orgulho de um filho valerá 250.000 Euros? Poderá ou deverá um pai dizê-lo (sequer pensá-lo), de alguém que gerou e "moldou"? E como se sente o filho que o ouve?
Partilhei a minha incredulidade com o meu amigo
Musicólogo e ouvi (li) de volta um: "Acho perfeitamente normal, muitos pais pensarão o mesmo!"
Estou certo de que os meus pais não o diriam. Certo, como certo do orgulho que sinto por eles. Partilhada também esta informação, inicia-se uma discussão acerca do tema. Afinal, será ou não "natural" os pais não sentirem orgulho dos seus filhos?
É um facto que todos os pais projectam nos filhos determinadas aspirações, traçam-lhes objectivos que gostariam que atingissem, especialmente se eles próprios não o conseguiram. É natural, afinal os pais querem (ou deveriam querer sempre) o melhor para os seus filhos. O problema reside na lata definição de "melhor"...
Aos pais caberá dar aos filhos todas as ferramentas à sua disposição, para que possam decidir o seu futuro. Cria-lo, assim como criar-se a si mesmos. Não cabe aos pais decidir por eles, ou impor-lhes fórmulas feitas, normalmente elaboradas para evitar que os filhos caiam nos mesmos erros por eles cometidos.
Mas todos falham. Todos nos desiludem. Muitas vezes por destruir a imagem que nos transmitiram de si, ou por destruir a imagem que criámos deles. Os filhos não são excepção. Nem sempre seguem os caminhos que os pais julgam ser os melhores e, nestes casos, a desilusão, ou no mínimo, a tristeza, são sentimentos normais. Mas poderá isso destruir o orgulho que se possa ter nos nossos filhos?
Se admitimos erros aos outros, os desculpamos, perdoamos e, nalguns casos, até esquecemos, não seremos capazes de os fazer a alguém que concebemos? Afinal, se um filho faz uma "asneira" o pai que lhe transmitiu valores e o educou não será, de todo, isento de culpa. E gostar de alguém, amar alguém, é reconhecer-lhe os defeitos e as virtudes, aprendendo a lidar com ambos.
Assim, parece-me que um pai que ame realmente o seu filho, não poderá dizer, conscientemente, que não sente orgulho dele. E se o diz, não pondera que por mais que projecte de si no seu filho, ele é um ser único e diferente de todos, com as suas próprias aspirações e desejos, que podem não se conjugar com os dos progenitores, por mais difícil que seja lidar com isso!
Pais do mundo, tenham orgulho dos vossos filhos. Eles são parte de vós, e serão, sem dúvida, merecedores do vosso respeito e melhor apreço!
P.S.: E certamente, admitir a ausência deste orgulho em pleno
prime time não será o melhor a fazer!